segunda-feira, 11 de abril de 2011

Amália Patrícia

E proibido pisar nas flores


Simone de Beauvoir, francesa, branca, burguesa e que não conheceu o FEMINISMO RADICAL. Teve seu momento de epifânia lavando os pratos do almoço de domingo quando morava com seus pais. Ela não nos contempla totalmente, nós que somos a dita criatura vestida de mulher, negras, vivendo na conservadora região que é esse recôncavo baiano. Essa pessoa ,intelectualmente enriquece as explicações sobre o que é a CONSTRUÇÃO DO FEMININO com uma critica muito da inteligente sobre como as palavras são instrumentos de gendramento que normatizam e institucionam no campo do simbólico o que devemos compreender sobre a natureza feminina ,utiliza-se elementos da fauna e flora,para a manutenção do DETERMINISMO BIOLÓGICO. Somos chamadas de florzinhas, borboletinhas, panteras (me chamam de onça), vacas, galinhas, orcas e uma infinidade de elementos inanimados.

Nada em mim e em ti é natural. Até os horários e locais inventados para as nossas necessidades fisiológicas é uma criação humana. Marx teve a grande “sacada” quando nos diz que existe CONSCIÊNCIA GREGÁRIA: sexo, xixi, sede, calor. E a CONSCIÊNCIA SOCIAL: fidelidade, propriedade privada (Engels), política, opressão/exploração. E o amor? Essa é outra história, que mais tarde poderemos abordar.

Mademoiselle Beauvoir com a celebre frase: Não se nasce mulher, torna-se. Com o apoio da antropóloga Margareth Mead (que não era feminista)que pesquisando as tribos da Samoa, viu que o ser mulher lá,é diferente do que é aqui.Lembra que a mulher é uma invenção. Professor Zé Raimundo até me disse que existem três sexos: MULHER,HOMEM E MULHER NORTE AMERICANA.

Na época da minha avó já estava esboçando esse novo arranjo de família onde predomina a MATRIFOCALIDADE, mulher provedora do lar, abandona pelo marido e cheia de filhos. A nova ordem de FHC - fase USP. Existe uma estatística cruel, que indica como a “mulher negra”baiana sofre de solidão. A tale da relação de “não conjugali-dade”. Essas mulheres tem dificuldade para casar formalmente na Bahia? Dizem estudos que sim.

O controle dos nossos corpos nas esferas publica e privada, é outro fator de perversidade a que estamos sujeitas numa sociedade construída sóciopoliticamente nos basilares do patriarcado. Imagine que o tema aborto sacudiu a eleição da “PRESIDENTA DILMA”, que tem na sua trajetória política a defesa do aborto, que para se eleger teve que negar toda sua historia fazendo acordos com a base política conservadora. Não sou a favor do aborto, mas ele acontece aos olhos do Estado que insiste em tornar invisíveis as meninas que chegam sangrando para uma curetagem no SUS. A mortalidade materna cresceu no nordeste, a causa está nos abortamentos nos fundos de quintais e clinicas. Religião alguma impediu essa realidade macabra.

A “piriguete” em decotes e micro roupas tem seu corpo legitimado para os abusos sexuais? A dona de casa que atrasa o almoço também tem seu corpo físico e mental para sofrer danos? Ambas são vitimas da violência que matou no ano de 2010, 10 mil pessoas “vestidas de mulher”assassinadas dentro das suas próprias casas, pelos seus parceiros de relação amorosa.

Isso são dados de guerra, onde está o ESTADO, que não recruta seus exércitos em defesa dos seus civis, nesta guerra?

O nosso maior inimigo não é o HOMEM (que eu adoro, na minha vida existem três), nosso algoz é essa construção de masculinidade, essa coisa esquizofrênica que educa desde a mais tenra infância a nos comer, devorar, consumir como OBJETO.

Ser feminista não é desejar acabar com a “raça” dos homens, transformar o mundo numa hegemonia feminina e matriarcal, onde só as mulheres tem o poder,isso é conversa de segunda e de quem estereotipa as ideologias, sem fundamen-tação. Ser feminista é desejar, utar pela justiça pela promoção da EQUIDADE. Respeitar as diferenças, possibilitar que as PESSOAS evoluam de acordo com suas subjetividades.

“É proibido pisar nas flores” é uma das determinações legais que regiam a ditadura militar Uruguaia, utilizo para fazer analogia com a ditadura que nós mulheres sofremos por muito mais de 2011 anos- entre a misógina de Aristóteles que é herdada pela igreja católica por Santo Agostinho- A ditadura da eterna natureza feminina da que não nos permite envelhecer assim como a flor perde a beleza ao desbotar das suas pétalas.

As alteridades entre o MASCULINO X FEMININO,essa dicotomia de quem é melhor e mais poderoso (cafonice da tradição eurocêntrica) tem,estão e devem ser DESCONSTRUÍDAS. Sou uma PESSOA montada nas performances do gênero feminino, mas esse termo político MULHER não me contempla. O que sou é outra coisa e está em construção.

*Amália Patrícia é feminista negra, estudante do Bacharelado em Estudos de gênero e Diversidade do NEIM-UFBA,pesquisadora dos corpos,poder e capitalismo.

Um comentário:

 ☮ Camila Brito disse...

''parceiros de relação amorosa.''
forma educada de dizer hein?! kkkk

homens que abusam de mulheres, não merecem essa intitulação.