terça-feira, 5 de julho de 2011

Amália Patrícia - É proibido pisar nas Flores

“O não poder das mulheres”

Quando comecei os Estudos de Gênero, deparei-me com um artigo da profª Ana Alice que l era encabeçado por uma frase do livro de Marcela Lagarde: Cautiveiros de las mujeres, monjas, putas, presas y loucas. A frase escolhida pela minha professora dizia: “O poder é a essência do cativeiro da mulher e dos ca-tiveiros das mulheres” (1993:153).
Nunca vi o poder como uma coisa ruim que degrada as pessoas, mesmo sem ter lido uma frase se quer do filosofo do poder, o meu lindo Foucault, já sentia certa simpatia pelo poder, mas porque nós mulheres entregamos nosso poder nas mãos dos homens? Não é nenhuma novidade que o feminismo no Brasil surge nas Universidades, entre intelectuais brancas e burguesas, esse florescer não questiona o domínio das mulheres no âmbito domestico, indaga a exploração destas pelo mercado de trabalho, a mulher tinha saído de casa e adentrado nas indústrias têxteis nos finais da década de 70. Então essa inclusão  e a saída da esfera domestica nos confere poder? Não, isso nos sobrecarregou, surge nas nossas vidas a dupla jornada de trabalho, trabalhar fora e depois cuidar da casa, costumo até dizer que temos uma tripla jornada de trabalho, temos que deitar com nossos parceiros e ter uma performance impecável tipo a atriz “sibilante e insinuante” da novela das 21h.Entretanto com essa anomalia que algumas de nós ostenta como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo: trabalhar, ser casada, ter filhos e ir ficar magra, não permitiu que debatêssemos sobre a nossa autonomia de fato e de direito, esquecemos de tomar o espaço publico na trajetória política brasileira.Vejamos como ainda podemos encontrar mulheres que estudaram muito, ascenderam profissionalmente, casaram e deixaram toda representação da sua vida publica nas mãos de um marido,as que não casaram ou separadas são representadas pelo papai, irmão,tio, amigo gay, mas sempre a figura masculina à frente representando publicamente. O espaço publico é hegemonicamente gendrado¹ pelo masculino. As mulheres estão excluídas da política representativa, posso contar nos dedos de uma mão quais foram as vereadoras da minha cidade, isto sem mencionar a assembleia legislativa, entre outros espaços onde transitam o poder político. Meus cabelos arrepiam de horror quando ouço a frase :”não sou política”.Aff que preguiça de gente que fala isso, como se o fazer política fosse algo que pode ser negado numa sociedade altamente dependente de serviços e servidores. Pois bem, por mais que a gente estude, ganhe muito dinheiro, fique “gata da academia” e domine todos os segredos do sexo tântrico, o poder não vai estar conosco, enquanto não entendermos e sejamos educadas para participar onde ele penetra. Esse é um caminho longo, mais como tudo que é social é uma invenção, que tal a gente reinventar, desconstruir e sairmos dos cativeiros do patriarcado conservador dos sexistas que usam do fundamentalismo religioso que nos coloca como serpentes do pecado, e do senso comum de que nós mulheres somos as 
piores inimigas uma das outras? Vamos começar a fazer valer na nossa cidade o cumprimento da Lei Maria da Penha, aqui ainda se retira queixa de marido, irmão, ou seja, o machinho misógino que possa ser enquadrado por esta, porque a cultura infelizmente se sobrepõe de forma leviana à soberania da lei. Mas nem tudo no nosso mundo do não poder é tão ruim, a coisa tá mudando sim, quando vemos nos noticiários que o homem mais poderoso do mundo (não é Obama é o safado do Dominique Strauss-Kahn diretor-gerente do FMI)foi derrubado por uma imigrante da Guiné, a camareira  o acusou de agressão sexual, este é um marco para o feminismo negro, algo muito bom está surgindo, mesmo que seja em Nova York. Vamos abrir os grilhões invisíveis que nos limitam a uma relação de conjugalidade baseada na propriedade privada, vamos nos libertar, vamos libertar os homens também, vamos compartilhar os poderes, porque isso é bom, justo e digno.

¹gendrar significa limitar algo a um gênero, ex: homens são agressivos,ou mulheres não sabem dirigir

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