terça-feira, 5 de julho de 2011

Em Foco Nossa Cultura - Ninho Nascimento





Me fale da sua relação com a música:
Fui pandeirista de um pequeno grupo daqui que fazia o serviço de auto falante do presídio Rosendo Leite, em 1956. Depois disso, ouvindo a orquestra Tabajara, na praça da Purificação, neste mesmo ano de 56, tomei amor à música e comecei a estudar na Filarmônica Lira dos Artistas. Em 57 quando meu pai faleceu e eu parei de estudar, mas logo voltei e comecei na filarmônica tocando soprando, instrumento reto e quando não tinha bombista, eu quebrava o galho tocando bumbo. Certo dia eu pedi ao professor Vilela na época para me dar um saxofone, pois eu queria experimentar o instrumento. A princípio ele me negou, mas como eu insisti e disse que não tocaria mais o bumbo, ele resolveu me dar um saxofone sem a buquilha. Comprei uma buquilha, coloquei e quando percebi que aquele era o instrumento que realmente queria tocar, “minha velha” me ajudou a comprar um e fiquei tocando durante 30 anos na Lira e por fora, exercendo a minha profissão de pedreiro e tomando conta da família, pois meu pai já havia morrido e eu fiquei incumbido disso. Mais adiante, fui convidado para tocar na orquestra Os Tapajós, apelidada de Antônio César e seus cabras da pestes. Toquei muitos anos com esse grupo e daí pra cá venho me mantendo na música como posso. Sempre trabalhando de pedreiro que é a minha profissão e fazendo apresentações na medida do possível. Não sou nenhum expert em música, não estudei para fazer carreira em música, até porque tive que criar meus filhos, mas entendo um pouco, leio algumas partituras, tenho um curso de mestre de bandas que fiz em Cachoeira com os maestros Josmar Assis e Chachá.
O sax é de fato um instrumento musical para poucos ou qualquer pessoa pode tocar?
Acho que além de conhecer o básico de música, a pessoa precisa ter dom para tocar saxofone. Dos instrumentos de sopro que conheço, acho o mais difícil porque a natureza dele é MI-BE-MOL e isso dificulta para algumas pessoas que tocam esse tipo de instrumento. Derico, de Jô Soares, por exemplo, nunca vi ele tocando o sax alto porque é mais difícil do que os outros instrumentos, mas eu me adaptei ao sax e gosto de tocá-lo. Deus me deu esse dom e enquanto puder, vou levando...

Além de Santo Amaro, você faz bastantes apresentações em outras cidades da região, me fale um pouco de suas andanças:
Em Salvador eu toco bastante, já toquei muitas vezes no Baby Bife, no Barbacoa, em festas no Hotel Oton, Clube Espanhol, em todas as praças do Pelourinho: Pedro Arcanjo, Quincas Berro D´Àgua, etc, em várias sedes do SESI, trabalhei seis anos com a banda Made in Bahia, com Osvaldo Fael, com a saudosa Mirian Tereza e assim vou levando, hoje, após o falecimento de  Mirian, faço instrumental por aí com o seu  experiente tecladista.

Como está sua agenda, hoje. Continua recebendo muitos convites para tocar fora da cidade?
Graças a Deus, muitos convites. Ainda este mês, no dia 11, irei a Salvador tocar no aniversário de uma senhora de 84 anos. Também viajo para Aracaju e outras cidades próximas, fora do estado, sempre que pinta convite eu estou lá, seja onde for.

Qual o tipo de festa em que você é mais convidado para tocar?
Sem dúvidas em festas de pessoas mais maduras, que tem gosto musical definido e apurado. Toco muito também para pessoas idosas. Toco diversos estilos, um pouco de tudo, inclusive Chiclete com Banana, mas meu público maior está concentrado na faixa etária acima dos 50 anos.

Seu repertório deve ser bastante amplo, mas tem uma música em especial que você adora tocar?
Olha, o desembargador Cintra, já me fez essa pergunta duas vezes. Gosto muito de tocar clássicos da música brasileira, entre esses, músicas de Tom Jobim como Eu sei que vou te amar e Lígia, tem também alguns clássicos de Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso, adoro tocar Se eu quiser falar com Deus, de Gilberto Gil, tem muitas músicas que adoro cantar.

Quantos anos de sax, Paizinho?
Subindo e descendo, 54 anos de música. Em 58 eu fiz a minha primeira tocada como profissional, num carnaval, tocando no bloco do nosso inesquecível Edilson Jota do Nascimento, aqui em Santo Amaro, mas antes disso, toquei por ai com a filarmônica Lira dos Artistas em diversas cidades da região.
No dia 27 de maio você completou 72 anos de vida. Você Já tocou em festa de aniversário de muita gente. 

E em aniversário seu, já tocou também?
Já sim. Tenho um amigo em Lustosa que toca violão. Eu faço aniversário no dia 27 e ele no dia 28. Ele festejou meus 70 anos, mas quem tocou fui eu, lá em Lustosa. Ele tocou violão e eu fiz o sax, numa festa bem animada...

Quero saber qual a festa fora de Santo Amaro que que você tocou e mais lhe marcou como saxofonista?
Toquei em Salvador no Spaguete Lilás, na Barra, com o baixista de Raul Seixas nas Bodas de Ouro da irmã dele. Essa foi uma das grandes festas que fiz e que não esqueço. Uma outra,  em Salvador foi o aniversário de Flora Paranhos, em Amaralina, no quartel do exército, foi um espetáculo...!

E aqui em Santo Amaro, fale-me de uma festa que lhe marcou muito?
Aqui em Santo Amaro tem algumas bem marcantes para mim, entre elas, os 90 anos de Dona Edith do Prato, que toquei com Mirian Tereza, as Bodas de Ouro de Raimundo Isidoro, que mora no Beco do Caquende, um querido amigo, toquei em várias festas para o cientista José Silveira e todas para mim foram marcantes, toquei também no NICSA, no aniversário de Emanuel Araújo, enfim, aqui em Santo Amaro participei de muitas festas marcantes...

Como músico instrumentista você percebe interesse da juventude em aprender música?
Infelizmente os músicos instrumentistas da cidade tem que sair da cidade por falta de oportunidade para tocar aqui e isso termina tirando o incentivo da meninada. Tenho dois filhos tocando em Salvador, um nos Bambas e o outro no Pagodart, tenho um sobrinho tocando no É o Tchan! E assim como eles tem muitos outros meninos que tiveram que sair para buscar oportunidade, como Júnior Figueiredo, Juvenal, Jonivon e outros. É muito difícil despertar o interesse da juventude para alguma coisa se o governo não faz a sua parte.

Você se arrepende de não ter saído também?
No meu caso, sinceramente não. Como diz Aloísio Ventura, alguém tem que ficar para as outras pessoas saberem que aqui tem música. Se sair todo mundo a cidade fica “descoberta”.          

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