quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Memórias

Memórias

Itagildo Mesquita

Noite de Verão em Santo Amaro, na porta do “Chapéu de Palha”, nosso mais tradicional bar, de sandália Franciscana bermuda e camiseta enfrento prosaicamente a quentura que nestas épocas do ano assola nossa cidade. Os meus pensamentos divagam ao observar a nossa velha e querida Praça da Purificação sendo praticamente reconstruída em um projeto misterioso em que ficamos sem saber se teremos uma linda praça ou se teremos algum “monstrengo” modernoso que definitivamente irá comprometer o belo conjunto arquitetônico da nossa mais preciosa praça. Nasci nessa cidade Leal e Benemérita e muitas histórias de homens e mulheres ilustres que muito contribuíram na formação na nossa nação brasileira. Do ponto de vista histórico poderia ficar aqui escrevendo páginas e páginas sobre os Saraivas, Abrantes, Cotegipes passando pelos Viscondes de Pedra Branca, Ferreira Bandeira o Conde de Subaé a Condessa de Barral enfim nomes a que podemos acrescentar ainda no período republicano o de Pedro Lago, Araújo Pinho, Theodoro Sampaio, e mais outros que emenda com a plêiade de artistas onde destacasse Assis Valente, Mano Dércio da Portela, Donga, e mais modernamente, Caetano, Bethânia, Roberto Mendes, Jorge Portugal e outros.

Penso nessas ilustres pessoas imagino se todas elas convivessem nessa cidade ao mesmo tempo e à mesma época. Santo Amaro seria a mais importante cidade do Brasil em todos os campos, políticos, social e cultural.

Mais se me lembro dessas tão importantes figuras, também me lembro de pessoas simplórias com quem convivi e que refrescando os meus pensamentos fico saudoso:

Por exemplo como esquecer das “turras” do meu pai com os torcedores do arqui rival do seu time do coração o Ideal Esporte Clube. agremiação que ajudara a fundar todos eles quase concentrados na torcida do Botafogo Esporte Clube, notadamente “Nelsinho do Bar”, Gilvandro Ribeiro e o mais eloqüente de todos “seu” João da Cruz Mota. Com esse senhor, que morávamos quase que vizinhos na rua Direita, meu pai travava uma amistosa “Guerra” quando da realização do Clássico Ideal X Botafogo no Estádio local. E mais ainda quem quisesse brigar com Dr. Edilio Mesquita dissesse na sua vista que Edgar famoso atacante do alvinegro Santamarense foi melhor jogador do que Pelé. A respeito disso lembro-me de um episódio que ficou em minha memória quando eu tinha mais ou menos 7 para 8 anos e que um dia pela manhã como meu pai sempre fazia foi ao Mercado Municipal no Açougue de Manoelzinho do Trombone comprar carne para o almoço do dia, pois, poucas casas naquele tempo tinham geladeira e o alimento tinha que ser comprado e consumido no mesmo dia. Ao retornar, vi meu pai, muito sisudo, colocar a carne sobre a pia da cozinha, ao mesmo tempo como acontecia todos os dias minha mãe a se queixar da qualidade da carne sob alegação de que esta não era filé mignon. Então meu pai falou para ela:

- Minha filha não reclame da carne hoje não. Mude a roupa e vamos à casa de João da Cruz, pois recebi a notícia de que ele amanheceu morto. Vamos ver se Dona Herminia e seus filhos precisam de alguma coisa.

Ato continuo minha mãe se dirigiu para o quarto, afim de trocar de roupa e eu ví meu pai sentado na mesa da sala, às lágrimas chorando a perda de um amigo querido.

Eu tinha, como disse acima mais ou menos 7 e 8 anos e nunca tinha visto um adulto chorar, pensava que somente as mulheres e as crianças choravam. E eu que pensava, que por causa do Ideal, meu pai não gostava de “seu” João da Cruz!

Nessa noite, ainda divagando, lembrei-me de personagens que povoaram a minha vida desde a minha mais tenra infância. Lembrei-me da explosão da Barraca de Fogos, em 1958, da morte de Polidoro, “o melhor empinador de Arraia de Santo Amaro” Lembro também de pessoas mais simplórias ainda como dona Cuja, uma preta Nagô, nossa vizinha, mãe do meu amigo Amaro Falcão, exímio fazedor de licor, os times de futebol, além dos notórios Ideal e Botafogo, o Elite o Cruzeiro, Aço Tarzan que virou Amarantim, onde destacavam-se os craques “Né”, “Pré”, “Daré”, “Ivo Pacheco” e “César Medonho”, irmãos entre si, todos do Amarantim no Ideal “Pulga Prenha”, “Lalai”, Hamilton Mutti, “Caramuru”, “Toninho Mesquita” meu irmão e Raimundo Artur, no Elite, Raimundo Mano, “Gato Preto”, “Nenga”, no Botafogo o extraordinário “Chico Mota”, o “Zagueiro Elegante” Jurandir Celino, “Djalma de Avelino”, ‘João de Gabú”, e o inesquecível Edgar, que para os Botafoguenses fora o melhor jogador do mundo.

Tínhamos também os valentões da cidade, “Besouro Cordão de Ouro”, passando por Bertinho Hadadd (com quem Faissinho seu irmão aprendeu a ser macho), Osvaldo de Quinzinho, Micinho de Antonio Costa, Edinho Xangô, Djalma de Rosendo, César de Isaias Javanzinho e outros.

Os poetas intelectuais tínhamos Nestor Oliveira, Zezinho Salles, Edio Souza, Ivan Argolo, Frank Romão, José Raimundo Cândido, os Raimundos de Salles Brasil tio e sobrinhos, na musica Lavenai, “Nariz de Cera”, “Seu” Idelfonso mestre Vilela Vadú, Roberto Mendes, Paizinho, Junior Figueiredo (Neto de Delfonso), Kiko Souza, Valmar Paim e outros.

Enfim uma cidade com personalidades tão importantes tem que ser uma cidade especial, porém, um homem dentre todos esses se destacou para mim: JOÃO DÁCIO SERRA. Este homem fundador jornal A Defesa, sozinho, dirigiu por mais de 40 anos aquele Orgão de Imprensa Interiorana, sempre mantendo a sua altivez, dignidade jamais sucumbindo as benesses do poder e fazendo um bom jornalismo na pequena imprensa de Santo Amaro. Ao morrer Dácio Serra foi substituído por nomes como José Joaquim Santana, Geraldo Salles, dentre outros.

No momento a imprensa escrita Santoamarense comemora com ênfase, no próximo dia 2 de Fevereiro o décimo aniversário de um veiculo de comunicação que tem se mantido com muita dignidade no pequeno universo do jornalismo escrito de Santo Amaro. Refiro-me ao jornal “O Trombone” do bravo jornalista Aloísio Lago, que modestamente consegue manter um jornal mensal de boa qualidade, enriquecendo as letras da imprensa local e colaborando no desenvolvimento de um jornalismo honesto e bravo, que nada teme a não ser o julgamento dos seus leitores que já são muitos em toda Bahia.

Para Aloísio Lago as minhas saudações demoncraticas e um grande abraço de sucesso cada vez maior para o bravo jornal O Trombone.

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