quinta-feira, 3 de março de 2011

Marco Valladares

Em busca do que aplaca o que a placa representa

Ninguém que honra o seu trabalho deve buscar glória no cumprimento do dever. Da mesma forma, é obrigação de quem informa, ser fiel à verdade. Assim, unindo humildade e responsabilidade, inevitavelmente, irá se chegar ao que conhecemos por credibilidade.

E é a credibilidade o alicerce que garante o crescimento e a continuidade de pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas, no exercício dos seus trabalhos. Sem ela, pode-se até alcançar patamares elevados de notoriedade, mas, com certeza, esses ganhos serão efêmeros, pois a soberba e a mentira sempre serão aliadas do fracasso.

Quando levamos em consideração um universo social onde, apesar dos afastamentos gerados pelas labutas diárias, pelo crescimento populacional e pelo desinteresse de muitos pelos problemas coletivos, ainda existe um contato íntimo entre os habitantes, fazendo com que os mal feitos se revelem com mais facilidade, aí, então, a credibilidade realmente necessita fundamentar-se na humildade e na verdade.

Peço desculpas aos queridos leitores por ter copiado esses três parágrafos do texto por mim escrito na edição passada, ao parabenizar 'O Trombone' por seus dez anos de existência. Infelizmente eles cabem bem no assunto que tratarei adiante, que, posso garantir, não será tão elogioso.

Vamos aos fatos: O primeiro deles é que a Lei exige impessoalidade no trato com a coisa pública, o que determina que todo gestor, em qualquer nível governamental, evite toda e qualquer coisa que possa parecer autopromoção ou visão pessoal, uma vez que representa uma população, e não a si mesmo. O segundo, é que todo patrimônio público tem garantidas as suas preservação e conservação pelos poderes públicos, com destaque para o Executivo.

Aí entra a malfadada placa de “Inauguração” da Praça da Purificação. Como se pode inaugurar o já existente há tantos anos? Na dúvida, recorri ao Mestre Aurélio Buarque de Holanda, que me indicou ser, Inaugurar: “(Do latim inaugurare.) Verbo transitivo direto. 1. Expor pela primeira vez à vista ou ao uso do público; 2. Introduzir o uso de; estabelecer pela primeira vez; começar, principiar, encetar; 3. Iniciar o funcionamento de; 4. Consagrar, dedicar; 5. Começar, principiar, encetar-se, iniciar-se”. Estava, então, confirmado o primeiro dos desastres cometidos com a colocação daquele retângulo de metal absurdamente mal aproveitado.

O segundo desastre estava exposto, desavergonhadamente, ao final da infeliz placa. Um texto inconsistente, mal escrito, sem 'pé nem cabeça', incompreensível em todos os âmbitos gramaticais, e inadmissível sob o ponto de vista legal. Nele o excelentíssimo alcaide municipal deixa (ao que pude entender, já que não dá para se afirmar nada de concreto de tão surreal mal escrito) transparecer o seu profundo orgulho por ter cumprido o seu dever, elogiando o seu feito como um “marco” para o futuro e chamando de medíocres os que criticam o seu trabalho de “homem de bem”. Uma questão pessoal abertamente inserida em um bem público.

O terceiro desastre está, para sorte desta placa já tão maltratada, fora dela, mas que a sua presença faz notar: Onde estão todas as outras placas que existiam na Praça da Purificação? Porque não foram recolocadas ao final da obra? Será que não representavam em nada o povo santamarense? Não tinham valor histórico e/ou cultural? Não eram marcos de realizações de outrora? São todas (ou eram?) bem públicos, cujas retiradas não poderiam ser feitas arbitrariamente. Espero, sinceramente, que ainda existam e que retornem aos seus locais originais.

Presumo que todos tenham percebido que em nenhum momento critiquei a reforma feita na histórica Praça da Purificação, pois, com algumas ressalvas (que, inevitavelmente sempre haverão, dado à imperfeição humana), gostei, especialmente da elevação e do novo contorno dos canteiros, dando mais conforto a todos. A minha queixa se restringe ao conteúdo da placa de “Inauguração” e à retirada das demais.

Se com isso deixarei de ser um “homem de bem” e passarei a engrossar a fileira dos “medíocres”, nada poderei fazer. Sou professor. E, como tal, em respeito à profissão e ao povo de Santo Amaro, corro esse risco prazerosamente. Até por que, é melhor ser medíocre sendo verdadeiro que estar abaixo da média!

Por isso mesmo, peço licença para ser, mais uma vez, repetitivo: Ninguém que honra o seu trabalho deve buscar glória no cumprimento do dever. Da mesma forma, é obrigação de quem informa, ser fiel à verdade. Assim, unindo humildade e responsabilidade, inevitavelmente, irá se chegar ao que conhecemos por credibilidade.

Professor

Marco Valladares

Maluco por Santo Amaro

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