segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Itagildo Mesquita


Momó setentou
Semana passada estive no Chapéu de Palha em uma quarta-feira, à noite, quando recebi através do telefone de Geraldo Salles uma ligação do meu querido amigo João Moacyr da Silva Paranhos, para os íntimos João Momó, que me convidava para na sexta-feira, dia 06 de maio, participar das festividades comemorativas dos seus 70 anos.
Honrado, enchi-me de júbilos, pois, comemorar os setenta anos do meu querido amigo João Moacyr era razão para muitas alegrias.
Para quem não conhece Moacyr Paranhos é aquela pessoa com quem sentimos honrado em fazer parte do rol dos seus amigos.
Bacharel em Direito, formou-se na velha Faculdade de Direito da Universidade da Bahia em época em que aquela escola resplandecia com alunos que se tornariam luminares das ciências jurídicas além de baluarte na luta contra a Ditadura Militar. Dali saíram nomes como Pedro Milton e Sara Brito, Walter Queiroz, Gilberto Caribé e Maria do Carmo Tomazzi depois Caribé, Carlos Alberto Dultra Cintra, Cândido Moraes Pinto Filho, Marília Muricy e tantos outros nomes que depois, tornaram-se expressões do Direito na Bahia. Moacyr fazia parte dessa turma e já se destacava como orador e jovem de esplendores e inteligência. Órfão de pai muito cedo, praticamente foi criado pelo seu irmão Dr. Ranulfo Paranhos de grande e saudosa memória, e sua querida mãe, dona Zezé Paranhos, também de não menos saudosa memória.
Na juventude, cultivou belas amizades como Pedro Azevedo Filho, Antonio Ramos Rocha, Eduardo Tadeu, Geraldo de Salles Brasil e talvez o seu principal amigo em Santo Amaro, Djalma Oliveira Santos, o Djalma de Rozendo dono do Bar 'O Chapéu de Palha' templo maior da Boemia santamarense que acolhe Moacyr nas suas noites boemias em nossa terra.
Nos anos de 1982, os jovens estudantes, intelectualidade, vários operários e políticos resolveram convidar o Dr. João Moacyr para ser candidato, por uma das legendas do PMDB, a prefeito de Santo Amaro. Isto feito, a princípio Moacyr relutou, pediu tempo para pensar, consultar a família, mas todos sabíamos que ele iria aceitar pois este era o seu maior sonho.
Candidatura aceita, os seus amigos se mobilizaram para formar Comitês, buscar apoio e mais ainda, 'fazer' o caixa de campanha já que o nosso candidato, muito embora não fosse pessoa de parcos recursos, mas não tinha dinheiro para enfrentar sozinho uma campanha eleitoral. O PMDB concorria com uma legenda entregue a Raimundo Pimenta e duas sublegendas, uma de Moacyr e outra de Milton Oliveira funcionário aposentado da Petrobrás.
Formou-se então a Chapa de Vereadores, que foi registrada com a Chapa Majoritária. Moacyr para Prefeito e Manoelzinho para vice-prefeito. Genebaldo, num golpe de mestre, conseguiu colocar Manoelzinho como vice, em duas das sublegendas: Pimenta e Moacyr.
Campanha correndo solto, o público passou a freqüentar os comícios de Moacyr somente para ouvi-lo falar. Orador eficiente ele focava o seu discurso em um Plano de Obras que haveria de modernizar a cidade. Enquanto isso, vendo-se perdido, Raimundo Pimenta resolveu apelar. Espalhou na cidade que Moacyr não gostava de Santo Amaro. Que quando vinha a Santo Amaro para a sua casa de praia em Bom Jesus dos Pobres, Moacyr vinha de navio pela Barra do Paraguassu, para não passar por Santo Amaro.
Enfim, batia forte e o que era pior, Moacyr não reagia continuando o seu discurso, muito embora eloqüente, porém, não fazia o gosto do eleitor mais popular que queria ver  o circo pegar fogo. A olhos vistos a campanha do nosso João Momó passava por um processo de esvaziamento e a de Pimenta crescia a cada dia.
Foi marcada uma reunião do 'Alto Comando'' da campanha, na casa do Dr. Ranulfo Paranhos onde seria traçada uma nova estratégia, mais agressiva. Por sugestão de Basílio Edmundo de Santana, Moacyr deveria chamar Pimenta de ladrão, dizer que ele dera um desfalque nas contas do INPS.
Ao que Moacyr perguntou:
- E isso é verdade? E Basílio respondeu:
- Não, mas você fala – e Momó argumentava.
- Você é maluco, eu vou chamar de desonesto uma pessoa que é honesta, somente por questão política. Isto é muito feio.
E Basílio ia mais adiante:
- Ora Momó feio em política  é perder a eleição, o resto tudo vale.
-Não Basílio, eu não faço política assim. Não quero ganhar a eleição a qualquer custo, ferindo os meus princípios,
O grupo então aconselhou a Moacyr que estava na hora de bater e bater forte em Pimenta. Decidiu-se então que Moacyr no sábado no comício do Trapiche de Baixo, deveria chamar Pimenta de ladrão.
No dia aprazado, foi um constrangido Moacyr quem subiu no palanque, para uma das mais difíceis empreitadas da sua vida.
O comício corria solto quando Basílio, que era o locutor, anunciou que o candidato iria falar, aplausos, gritos, urras. Enfim o ambiente propício para que este se pronunciasse. Discurso começando, Moacyr constrangido, falava sem muito entusiasmo. Aquilo que os seus companheiros queriam que ele fizesse ia de encontro ao rigor moral que sempre imprimira à sua vida. Lá se ia o nosso Momó falando de educação, saúde, segurança, da ditadura militar enfim falava de tudo menos do outro candidato. Ao seu lado, Basílio, impaciente falava baixinho no seu cangote:
- Chama o homem de ladrão Moacyr! Vamos xingar o homem Moacyr, diga que ele roubou o INPS.
E Moacyr olhava para Basílio, vermelho feito um pimentão e resolveu se desfazer, constrangido, do encargo dizendo:
- Meus amigos este candidato da legenda do PMDB é um mentiroso. Ele é um Peculatário!!
- Pecula o quê Moacyr? Perguntou Hélio Vermelho.
É assim o nosso João Moacyr. Homem íntegro, leal, companheiro, cujo estilo de vida nos enche de orgulho, e que prefere perder uma eleição com honra a ganha-la na iniquidade. Momó, hoje, vai vivendo a sua vida ao lado da sua Mariza e dos seus filhos, netos e amigos que são muitos e entre os quais quero modestamente estar incluído. Santo Amaro, com todas as suas contradições, talvez tenha perdido um grande prefeito.
Enfim, nem sempre vence o melhor. 

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