quinta-feira, 5 de maio de 2011

Amália Patrícia

Para que tá feio...





Maio mês Mariano para os católicos, das mães para o comercio e das noivas para quem gosta de propriedade privada. Bom para representar essa simbologia que é a invenção da mulher virtuosa, o sexo fomentador do pecado original. Entretanto diante do espetáculo que a mídia promove sobre as “mães desnaturadas” vem o sinal de alerta para o quanto de perverso existe nessa construção falaciosa chamada maternidade. Márcia Tiburi diz que existem dois extremos de mulher no Brasil: a santa e a puta .A  mãezinha deve vestir a capa azul do manto de Nossa Srª. Cândida, perseverante, dedicada, mártir, controlada, toda perfeição em virtude do corpo e da alma. Essa montagem da mamãe “que sempre ajuda a fazer um mundo colorido”, não veste uma maioria das mulheres reais, que vivem em situação de extrema pobreza, exploração sistemática dos seus corpos e de desequilíbrio mental. A mulher que jogou o recém nascido no lixo é a cara das pessoas que a gente teima em invisibilizar, e que adoramos espancar juntamente com os meios de comunicação: desnutrida, maltratada, ”velha” e que matem uma vida sexual irresponsável e ativa. Mas esse aparelho ideológico (Althusser) poderoso não trata com o mesmo destaque sensacionalista a promotora publica e seu psicanalista. Como condenar uma mulher toda trabalhada no douramento dos cabelos aos acessórios? No nosso país, gostamos de chutar quem denuncia o nosso lado fracassado de nação, somos servis com doutores diplomados, mesmo quando estes são flagrados simulando desequilíbrio mental para justificar seus atos de corrupção. Para que tá feio! Quando começaremos a compreender que se faz emergente o debate sem moralismo religioso e machista sobre a saúde da “vagina” e discriminalização do aborto? Será mais eficiente noticiar que mulheres são assassinas dos seus próprios filhos e apresentar a adoção como o grande milagre para as crianças que são verdadeiros abortos vivos?Não acredito que o aborto seja uma boa solução para corrigir o problema que é uma gravidez indesejada. O que defendo é que se olhe para nós mulheres, com mais cuidado, não por sermos frágeis, isso é uma palhaçada ,porque historicamente estamos à margem de tudo, somos nós que carregamos durante meses uma pessoa, tendo uma queda terrível de hormônio, sofremos alterações medonhas e ainda tem a tal equação: quando novas somos imaturas e quando maduras a biologia nos castiga. É inadmissível aceitarmos como o Estado trata da nossa saúde e controla nossos corpos, decidindo o que é melhor para nossa “xereca”. Não existem programas de educação sexual que tenham enfoque em prevenção, temos a cultura de condenar, prevenir jamais. Para esses homens a nossa vagina é algo lúdico, ambiente de recreação. Fiz uma pesquisa informal em Santo Amaro, resultado: 4 mulheres foram mortas tentando abortar, uma  menor abortou porque estava grávida do pai, 30 menores de 16 anos ficaram grávidas e o parceiro não assistiu a gravidez. Perdi a conta das crianças que vi esmolando na rua até a madrugada. Isso é aterrorizante, vale mais afirmar que somos culpadas, que deveríamos nos dar o valor (sic),porque homem pode fazer tudo, até se recusar a ser pai, tem horas até que penso que eles deixam o esperma no chão e a gente engravida sozinhas, como fazem os caramujos. Vamos começar a olhar as Marias reais, a mãe perfeita é algo ainda a ser construído, não existem mães desnaturadas, a mãe é uma criação da cultura, socialmente produzida e como tal necessita de educação para a sexualidade, planejamento para os novos arranjos familiares. É hora de dobrar o velho conceito moralista e ver que essa mulher  que sai para trabalhar e chega no final do dia cansada para fazer a faxina da casa, é merecedora de justiça, para ser reconhecida como pessoa de verdade, defectível e que precisa de ajuda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom texto.
Não posso deixar de concordar muito embora acredite que essa construção de maternidade seja essencialmente necessária. Somos filhos de uma mãe, mulheres, virtuosas, santas ou putas, que não são mais aquelas mesmas de Atenas. Algumas são donas das suas vontades, doutoras, professoras, advogadas, médicas ou mesmo que donas de casa, imperam soberanas no seu lar. A história apesar de caminhar em tímidos passos, evolui. Não podemos esquecer a simbologia do dia 08/03.
A sociedade como um todo, reflete a educação ou a falta dela que recebeu ou deixou de receber no berço na manjedoura, orfanatos, até na lata do lixo, infelizmente. Não podemos atribuir culpas de modo raso, faltam políticas publicas, boa orientação sexual nas escolas, mas, onde está a responsabilidade do seio familiar? Onde estão os antigos valores cultivados por mulheres/guerreiras que sacrificaram as suas vidas em prol do futuro de seus filhos? Onde foram parar aquelas lágrimas de agonia por não ter o que comer? É claro que ainda existem muitas desses mães que roem esse osso até o fiim, contra tudo e todos mas, tenho a ingrata sensação de que tudo virou plástico, ou seja, descarta-se tudo que não presta, ou que não nos traz benefícios, inclusive filhos. Falo isso tanto no feminino quanto no masculino fazendo uma dura crítica a responsabilidade do homem nesta questão.
Creio que seja perverso sim, a discriminação inconsequente, o abuso aos valores femininos, a tara saciada com o sexo mesmo que não consentido embora não acredite que essa endemia social seja um problema hermético, sem solução. Acredito nas mulheres espartanas, donas das suas vontades e que querem acima de tudo, respeito e mudanças drásticas.