terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Em Foco Nossa Cultura - Ninho Nascimento Entrevista Val Caetano

Ninho Nascimento
TB - Há quanto tempo existe a Banda Dissidência?
VAL - A gente cantava por ai, em bloco, na época, eu Hélio e Dibuia. Sempre tivemos o sonho de ter uma banda de reggae, mas na época a dificuldade era tamanha, você tinha que ter os instrumentos que eram muito caros, até que no final de 1992 decidimos e pudemos montar a banda e o lançamento foi na festa da Purificação de 93, nisso já se vão 19 anos de banda.

 TB - Você considera reconhecido o trabalho da Dissidência e quantos discos vocês já lançaram?
Val Caetano - Dissidência
VAL - Considero o nosso trabalho reconhecido, não só em Santo Amaro e na Bahia, mas também em outros estados. O raggae é uma música que não é midiada, isso dificulta outras pessoas que não estão antenadas no raggae a saber o que está acontecendo, mas o nosso trabalho é sólido, é um trabalho que não muda a direção porque o raggae não é uma música de moda, onde as pessoas ficam pulando de galho em galho. Somos reggae resistência, a nossa música defende um povo, tem um ideal, a gente tem algo a dizer e ninguém nunca conseguiu calar a gente e isso torna o nosso trabalho sólido de forma que nos proporciona um público que vai se renovando, baseado naquilo que a banda passa, Graças a Deus. Hoje, dificilmente você vai ouvir um papo de raggae em qualquer lugar do Brasil e as pessoas não citarem a Dissidência. Já fizemos shows para 40, 50 mil pessoas.

TB - Me conte sobre um show inesquecível da Dissidência nesses quase 20 anos de carreira:
VAL - Já fizemos shows com vários artistas nacionais: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Edson Gomes e já tivemos o privilégio de abrir vários shows internacionais, coisa que muita gente não sabe. Já tocamos com as grandes atrações do reggae internacional como Jimmy Clif, The gladiators, Congos, Gregory Isac... Um show que me marcou muito foi o último show de Luck do Beic que era um artista africano, o último show que ele fez no Brasil foi com a gente, uma semana depois ele veio a falecer, foi assassinado brutalmente lá na África. Esse show me marcou, foram 42 mil pessoas lá no Wet´n Wild, era um mar de pessoas, é um público de Fla Flu.

 TB - Vocês já sofreram algum tipo de preconceito ou tiveram portas fechadas por fazerem reggae?
VAL - Preconceito, não. Acho que a mídia não toca reggae por respeito porque a mídia está atrelada ao sistema político. Os donos das grandes emissoras de rádio e tv não querem que o povo escute o que deve escutar. É bem mais fácil e conveniente se pegar uma música vazia, que vai desviar o povo de questões sociais e políticas do que tocar o reggae que é uma música de protesto.

 TB - Vocês quase sempre tocam na festa da Purificação, pela grandiosidade da festa e por serem santamarense, é um privilégio cantar nesse evento ou é apenas mais um show?
VAL - É sempre um enorme prazer, é privilégio mesmo! Tocar em Santo Amaro é sempre difícil e ao mesmo tempo muito especial. Nestes 19 anos de carreira só ficamos de fora da festa 2 vezes por divergência de cachê, isso já faz muito tempo, mas de lá pra cá é só prazer. Já tivemos a felicidade de dividir o palco com Caetano Veloso durante quatro anos, sempre Caetano primeiro e depois a Dissidência e isso foi muito legal para nossa banda, é um show especial.

 TB - Por falar em festa da Purificação, o que achou da programação deste ano?
VAL - Não sou contra a música de ninguém, tem música para todo momento, mas entendo que o povo precisa ouvir uma música melhor porque a música influencia diretamente na vida do ser humano. No tempo da ditadura ,quando surgiram os grandes compositores da época, a juventude ouvia suas canções e acredito que por essa razão era mais politizada, estava mais ligado no que estava acontecendo, os jovens eram formadores de opinião. Acho que o povo merece ouvir música boa também, eu gosto de uma boa música, eu gosto de MPB, gostei da programação da festa, sim.

TB - Como andam os projetos da Dissidência?
VAL - Acabamos de gravar um cd que lançaremos logo após o carnaval e para 2013, quando a banda estará completando 20 anos, eu tenho um projeto para gravar um cd solo com a participação de grandes amigos que fiz no reggae. Já está todo mundo contatado e confirmado, só não posso ainda adiantar as participações para não estragar a surpresa, mas o projeto é muito massa. DVD por enquanto não penso para a banda até porque as gravadoras estão caindo fora desses projetos porque se tem um gasto muito grande com a produção e logo que sai o produto, tem um cara na esquina vendendo seu DVD por um real, então é muito complicado.

 TB - Quantos discos na carreira, Val?
VAL - O que acabamos de gravar é o de número cinco, inclusive gravamos nele uma música inédita de Edson Gomes. Acho esse o melhor cd da nossa carreira. O cd Desesperado também foi muito importante pra nós porque foi lançado nacionalmente em 2005 e rodou mesmo o Brasil, de norte a sul.

 TB - Termine essa entrevista deixando seu recado à imensa legião de regueiros:
VAL - A gente está sempre agradecendo o carinho que recebe do nosso público.(  Fazemos shows com uma frequência muito boa em Salvador, mas especificamente no Pelourinho, já havia um tempão que não tocávamos. Tocamos recentemente lá, na praça Tereza Batista e o espaço ficou pequeno.) Esse carinho do público pela banda Dissidência a gente não tem como pagar. A minha mensagem para essas pessoas é que continuem ouvindo o reggae para que tenham consciência do que está acontecendo à sua volta e às pessoas que não escutam reggae que passem a escutar para que entendam e tenham uma posição definida e definitiva do que é o reggae. Essa é a única música que defende o preto e o pobre, o reggae é um estilo de música que não se vende, é esse compromisso que sustenta o seu público fiel.

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