terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Em Foco Nossa Cultura - Ninho Nascimento Entrevista Marcel Fiuza


Quando você se encontrou com a música?

Na verdade eu sempre fui uma criança muito musical e minha mãe sempre foi a minha grande incentivadora porque ela é fã de Elis Regina e me acostumei a ouvi-la desde pequeno. Fiz teatro no NICSA com a professora Marcia Costa que também foi outra pessoa que me ajudou muito. Me apaixonei pelo teatro, e quando encerrou o meu período na escolinha de artes do NICSA, Péterson Figueredo (meu colega de sala, filho de Júnior Figueredo) e eu, começamos aquela fase de bandinha de escola, fizemos uma banda de pop rock chamada Império Primitivo, que é o nome de uma música que fiz; Péterson tocava violão e foi ele que me sugeriu que cantasse ao invés de tocar um instrumento e foi dessa forma que nasceu Marcel cantor. Em 13 de agosto 2005 fiz meu primeiro show profissional no Teatro Dona Canô e de lá pra cá a música foi tomando conta de mim, isso é o que realmente gosto de fazer pras pessoas, pra mim...

Além do incentivo da sua mãe, onde você vai buscar inspiração para sua música?

Meu artista de cabeceira é Djavan, mas é claro que, morando desde pequeno numa cidade como Santo Amaro é inevitável não gostar de Caetano Veloso, aqui a gente respira Caetano e Maria Bethânia em cada esquina e, convivendo com isso desde criança eles também passam a ser fonte de inspiração para todos nós santamarenses , sem falar em Gilberto Gil que é um grande mestre. Ouço outros estilos, também gosto muito de blus, de jazz, qualquer música sendo boa é uma boa fonte de inspiração.

E dos artistas contemporâneos a você, de quem você gosta?

Lenine é riquíssimo! Fantástico! Grande arranjador e para mim, o grande nome da atualidade.

A dificuldade de se viver de música num mercado tão disputado, principalmente pra quem está chegando agora, às vezes não lhe desestimula?

A dificuldade existe em todos os setores, não apenas na vida artística, mas quando você acredita em você e acima de tudo em Deus, as adversidades vão te fortalecendo. Em todas as regiões do Brasil faltam incentivos para a cultura, isso é lamentável num país tão rico e de tamanha diversidade cultural, mas a gente, gostando do que faz e procurando ter um bom relacionamento com as pessoas e respeitando o espaço de cada um, consegue seu próprio espaço e minimiza as dificuldades existentes. Fama é consequência do trabalho, eu quero mesmo é o reconhecimento sincero, quero mesmo é conseguir emocionar as pessoas porque isso não tem cachê que pague...

Tivemos recentemente uma Festa da Purificação considerada muito boa e de oportunidades sem precedentes para os artistas da terra, inclusive com a colocação de um palco na Rua do Amparo que parece ter sido o grande diferencial da festa, o que achou da novidade?


Marcel Fiuza

Mudança é uma coisa que às vezes assusta, mas achei a inovação muito boa, foi uma festa que agradou todas as tribos. Quem quis curtir a festa de bloco ganhou um outro circuito, o pessoal do axé e de outras grandes atrações foi para o palco 1 e aqui no Amparo, no palco Tropicália, foi simplesmente mágico poder curtir de pertinho artistas como Flávio Venturini que fez um show incrível! Beto Guedes, Luis Melodia, esses artistas que marcaram a vida de muita gente e outros tantos como Roberto Mendes, Eduardo Alves, Lívia Milena e Márcio Valverde. Esse palco foi um grande achado e acho que quem viveu essa experiência não vai esquecer tão cedo, espero que no próximo ano a coisa funcione de forma igual, ou melhor. O ambiente era bem caseiro, bem familiar, todo mundo sentado ao por do sol, lindo! Eu pude levar minha mãe, minha avó, sem medo de tomar empurrões, adorei participar disso, foi muito legal.

Você já amadureceu ao ponto de querer gravar o seu próprio cd, me fala um pouco de como você pensa realizar esse trabalho:

Minha idéia é fazer um cd totalmente autoral porque assim acho que conseguirei transmitir um pouco do que penso, num disco autoral o artista da voz ao que ele pensa, é onde o artista erra e acerta, espero conseguir acertar mais do que errar. Márcio Valverde vai fazer a produção do cd, mas vou contar com o apoio de grandes amigos, principalmente o grupo que já me acompanha há algum tempo e que compartilha comigo das mesmas idéias, das mesmas vertentes musicais, espero fazer um trabalho de qualidade e que realmente agrade.

Não é arriscado fazer um disco de estréia só com canções próprias e todas inéditas?

O gostoso da vida é correr risco. Eu gosto de correr riscos, até mesmo nos shows em barzinhos quando pego por exemplo uma música de Caetano ou Djavan que não é muito conhecida e toco com arranjos diferentes. Gosto de fazer isso.

Marcel, é inegável que hoje, Santo Amaro está caminhando melhor que em outros tempos, e a nossa secretaria de cultura, caminha nesse mesmo ritmo?

Santo Amaro como um todo vem passando por uma transformação, aos poucos a cidade vem se modernizando. Santo Amaro vive um bom momento e, na minha opinião a secretaria de cultura acompanha o ritmo, sim. A Festa da Purificação este ano, por exemplo, foi muito bem feita no que se refere à estrutura e atrações e acho que a tendência é melhorar. Como ressalva gostaria de falar que o coreto no meio da praça está carente de eventos, tem acontecido alguns, mas são muito poucos. É preciso acontecer mais coisas e de forma mais regular: apresentações das filarmônicas é uma coisa que atrai famílias para a praça e isso é muito bacana.

Que cantora seria o sonho de consumo para gravar uma canção sua?

A cantora que eu gostaria que gravasse uma música minha, infelizmente, é impossível, a menos que isso fosse feito numa sessão de mesa branca (risos) porque ela já está num outro plano espiritual, seria Elis Regina, mas Maria Bethânia também é o desejo de todos os compositores e, no meu caso seria muito por curiosidade para saber de que forma ela iria me devolver essa música. Bethânia quando grava qualquer compositor parece que ela desmonta tudo que você fez, remonta a música, dando a impressão que essa música não é mais sua. Chico Buarque já falou isso, Roberto Mendes fala, Marcio Valverde também e de fato é verdade. Então ser gravado por Bethânia significa que estou fazendo meu feijão com arroz bem feito, das cantoras mais novas gosto muito de Vanessa da Mara, acho que ela canta com muita espontaneidade e de forma muito divertida.

A geração da cidade que vem depois de você tá interessada em que Marcel?

A juventude está deixando de lado muita coisa e isso é muito preocupante. No alto dos meus 23 anos, percebo que falta interesse por parte dos adolescentes não só boa música, mas até mesmo pelos bons costumes, com raras exceções a galera jovem não tem o habito de dar bom dia, boa tarde, por favor, muito obrigado, com licença, não respeitam os idosos. Estudei no José Nery a infância toda e me lembro com saudades da chegada na escola, tinha a hora da reza, no pátio, isso não se vê mais, o que se vê hoje são alunos agredindo professores, inclusive em escolas particulares, isso é inadmissível, parece que estamos voltando à era medieval. Mas eu não perco a fé de que os jovens voltem a se interessar pela leitura, pela boa música, pelos bons costumes...

Parece-me que a música baiana que chamamos de axé já teve uma fase pior. É impressão minha ou a qualidade das letras tem melhorado um pouco?

Acho que a qualidade desse tipo de música na Bahia tá melhorando sim, hoje são dois ou três grupos isolados que insistem em apelar. Os próprios grupos de pagode já perceberam que a música ruim não é o caminho. Música de duplo sentido é uma coisa, pornografia sonora é outra totalmente diferente. A coisa está mudando até porque as bandas de rock, pop rock e reggae estão ganhando mais espaço, então quem faz música ruim tem que dar uma melhorada no seu trabalho. Gosto muito mais do São João do que do carnaval exatamente por isso, porque a música junina, o forró, é uma música muito melhor. Por falar em forró, estamos comemorando este ano o centenário de Luiz Gonzaga, você também curte o rei do baião?

Eu sempre fui um menino muito curioso pra tudo e minha avó tinha uma coleção de discos de vinil e nesse universo de discos encontrei um vinil antiguíssimo do trio nordestino que tinha as músicas mais antigas possíveis de Luiz Gonzaga e fiquei louco pelo repertório. Tem São João na Roça, que eu gravaria, Assum Preto que é uma música triste, mas lindíssima e outras bem mais antigas, todas maravilhosas! Acho que qualquer artista que gravar um cd só de Luiz Gonzaga ficaria satisfeito com o resultado, é fácil gostar e cantar Luiz Gonzaga, ele é um mestre, uma referência musical para todos nós!

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